Bitucas de cigarro jogadas pela janela e fumaça estão entre as maiores reclamações
As maiores reclamações são com bitucas jogadas pela janela e fumaça. Advogado especialista em condomínios diz como resolver o problema.
Quem mora em condomínios eventualmente reclama de algum vizinho, seja pela música alta, briga de casal, cachorro latindo, criança chorando. O SPTV estreia uma série especial abordando todos os problemas e soluções para os condôminos: ‘Meu Condomínio tem Solução’.
Um problema que vem ganhando força desde o ano passado é o tema da primeira reportagem: reclamações contra o cigarro do vizinho. Depois que a lei antifumo entrou em vigor no estado de São Paulo, há nove meses, a tolerância dos moradores diminuiu e até a fumaça do vizinho anda incomodando.
O que fazer nessas horas? Qual o direito do fumante e do outro morador? O síndico deve resolver o impasse? O advogado especialista em condomínios, Márcio Rachkorsky responde.
Quatro milhões de pessoas, ou 38% da população, moram ou trabalham em conglomerados. São 27 mil condomínios. No Tatuapé, Zona Leste, 1.500 pessoas dividem o mesmo condomínio. São três torres, um mega estacionamento e um espaço de sobra. Contudo, apesar do espaço, as reclamações são recorrentes. O jardim agradável, com função de deixar o local mais aconchegante sofre com a falta de educação. Os condôminos insistem em jogar bitucas de cigarro pela janela.
Dona Marina Sanches também é vítima desse tipo de mau hábito. Ela não suporta a fumaça do cigarro dos vizinhos. De um jeito bem peculiar, resolveu agir. “Eu comecei a falar alto: ‘Tonta! Fuma mesmo, fuma bastante… Depois você morre de câncer, a fábrica não vem te indenizar’. Comecei a falar alto. Dali uns dias vi bituca jogada dentro de um vasinho e depois na floreira.”
As bitucas viraram um verdadeiro pesadelo e tema para a imaginação fértil da dona Marina. “Cheguei até a pensar que tava entrando gente que fuma quando eu não estava. Olha só! [risos] Aí eu troquei até o miolo da fechadura. Como nada foi resolvido, liguei para a síndica.”
“Eu recebo ligações falando ‘a minha varanda está cheia de cinzas de cigarro’. Só que a gente não sabe da onde que veio. Então fica complicado. Como a gente vai punir essa pessoa?”, explica a síndica, Elisângela Neife. Isso é muito comum nos condomínios. Os moradores não se falam, não conversam um com o outro, não chegam a um acordo. Preferem ligar direto para o síndico, que serve como um para-raio e recebe uma enxurrada de reclamações.
Nosso advogado especialista em condomínios, Márcio Rachkorsky explica a função do síndico. “O síndico não tem obrigação de atender os moradores a qualquer hora. Aliás, ele não é funcionário do condomínio, nem dos moradores. Ele é um colaborador, uma pessoa que dedica um pouquinho de tempo, um pouquinho de energia pro condomínio e ele precisa ser respeitado porque ali é a casa dele, é o lar dele.”
Síndico sofre mesmo, mas pelo menos na questão do cigarro, a lei antifumo, em vigor no estado desde agosto do ano passado, virou a principal ferramenta para proibir que se fume nas áreas comuns. Entretanto, não dá para impedir que o morador fume na própria casa e, por isso, muitos vizinhos ficam com as mãos atadas.
Carolina Rodrigues de Araújo, professora de informática, mora no Jardim Peri, Zona Norte, e está quase aderindo àquele velho ditado: ’os incomodados que se mudem’. “Uma solução próxima seria sair daqui mesmo, porque a gente está vivendo com vizinhos que não respeitam o próximo. É muito barulho depois da meia noite, cheiro de cigarro.”
Já o outro lado da história… “Acho que eu sou um pouco barulhenta, sei que às vezes faço barulho demais, escuto música alta. Agora sobre fumar dentro de casa, se eu fumasse o dia inteiro, mas eu não fumo um maço de cigarro numa noite, entende? Eu não vou descer lá embaixo para fumar no frio ou no calor, independente de qualquer coisa eu estou dentro da minha casa”, defende-se Natália Vieira, estudante.
O advogado dá uma sugestão para lá de inusitada para o impasse. “A única coisa que o vizinho incomodado pode fazer é quem sabe levar uma garrafa de vinho bater na porta, fazer um brinde, pedir gentilmente que o vizinho manere no cigarro. Quem sabe fume em outra posição para que a fumaça não vá diretamente para sua varanda, para sua janela. É aí é uma questão de diálogo de amizade e tentar sensibilizar o fumante.”
A varanda foi o que restou para Wilson Favieri, síndico fumante na Pompeia, Zona Oeste. “Eu tenho preocupação com relação aos locais que eu posso fumar ou não. Tô no décimo primeiro andar, mas já aconteceu de eu estar fumando e vizinho olhar com um certo ar de condenação. Aí já não é problema meu. Sinceramente, eu acho que na minha varanda eu posso fazer o que eu quero.”
Wilson só fuma na varanda porque dentro de casa existe um duto de ventilação que interliga os apartamentos. Paulo Muzel, diretor de arte, odeia o cheiro de cigarro que chega de outros andares. O que ele faz? Fecha a porta do banheiro e pronto. “Quando meu filho corre pela casa para lá e para cá, ou seja, eu sou o problema. Então assim, colocando numa balança, o meu filho corre, o outro fuma, essa é a vida em comunidade, em condomínio.”
Fonte: Portal G1